É no mínimo um assunto que divide opiniões. O ministro da Cultura, Juca Ferreira, começou a fazer lobby com o governador de São Paulo, José Serra, pela libertação da jovem Carolina Pivetta da Motta, de 23 anos, presa em outubro passado quando junta de mais 40 jovens picharam as dependências da Bienal na capital. Caroline está há mais de 40 dias na prisão, pois não comprovou residência fixa e ocupação legal.
Na visão do ministro, "é um escândalo uma pessoa ficar presa esse tempo todo porque fez uma intervenção gráfica". Claro que essa frase podemos entender como eufemismo, pois o resultado da “obra” dos vândalos foi muito além de um simples protesto. O “andar vazio” representava um estado em que todos os seres humanos sentem ocasionalmente. Os pichadores simplesmente usaram esse espaço para fazer seus rabiscos quase que indecifráveis e, de certa forma, promover o nome de um grupo conhecido como “Susto’s”.
Caroline já havia declarado da prisão que “pichava para o povo não gostar”. Uma forma de crítica dos “excluídos” e de expressão massivamente repudiada pela sociedade. Eu concordo com o ministro que o fato não seja caso de polícia, porém sua disposição em apenas libertar a moça pode deturpar a iniciativa nobre de Ferreira. Afinal, Caroline vem uma infância semi-marginalizada, de pouco estudo e vive longe da mãe, que mora no Rio Grande do Sul. Tudo isso contribui para inserção da moça nesses grupos que acolhem jovens cada vez mais sem identidade e fragilizados pela dura vida das cidades.
Não tenho absolutamente nada contra os pichadores, apesar de identificar diferenças gritantes entre esse grupo e dos grafiteiros. No entanto, pressionar o governador, como se ele estivesse acima das leis, para libertar alguém porque estava se “expressando” pode causar uma deturpação de ideais. Se com a soltura dessa garota, todo pichador a carregar como um exemplo nos ombros, as fachadas não só de prédios públicos, mas de residencias e prédios privados estão com os dias contados. Afinal, não vai ter um pichador por aí que não decore o slogan, patrocinado pelo próprio ministro da cultura, de “intervenção gráfica”.
Caroline não deve ficar em uma cadeia, mas deve ser responsabilizada, assim como os outros, pelo crime que cometeu, que prevê 3 anos de reclusão. A melhor forma de punição: pintar fachadas que esses “artistas” costumam decorar casualmente na cidade. Seria um instrutivo exemplo do trabalho e do dinheiro que se gasta mensalmente para limpar essa porqueira.
Liberdade nesse caso não é segunda chance ou lição de moral. É apenas conivência com um grupo que precisa de apoio, identidade e educação.
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