domingo, 22 de janeiro de 2012

Agência Publicitária


Triiimmm, Triimmm


___ Gomes Baldanuca & Platini VSF8, bom dia.


___ Bom dia, é da agência publicitária?



___ Sim senhor, Gomes Bladanuca & Platinni VG8. Deseja falar com quem?

___ Ual, tem certeza que é da agência de publicidade, pois com um nome criativo desses, você deve ter levado meses para decorar?

___ NÃO SENHOR (enfaticamente), são os nomes dos diretores e fundadores da empresa, os quais são RECONHECIDÍSSIMOS nos mercado publicitário e, quem tem um mínimo de leitura regular de jornais, já deve ter lido o nome deles.

___É verdade, mas pra mim o Platini estava ligado ainda a UEFA depois de se aposentar do futebol. Agência publicitária é uma novidade?

___Quem???

___Deixa pra lá, eu acho que ambos precisamos ler mais o jornal. Quero falar com o senhor Marcos Roberto Sibini. Ah, desculpe, GERENTE Marcos Roberto Sibini.

___Marcos Sibini? O senhor poderia me informar o setor?

___ Lindinha, não quero tomar seu tempo e, o que é pior ainda, o meu. Portanto, da próxima vez que você se gabar sobre seus conhecimentos de corporativismo interno diante de estranhos e possíveis clientes que ligam para a sua agência, por favor, se informe melhor sobre os superiores de cada setor e pare de puxar somente o saco dos diretores.

__SENHOR, não estou recebendo nenhum memorando me informando de funcionário mudando de setor aqui.

__Ah tá, eu sou obrigado agora ouvir a sua mesopotâmica história sobre o assassinato da língua portuguesa pelo perverso gerundismo.

___HÃ?

___ Nada, por favor, me transfira para o setor de quem cuida da tecnologia. Tenho certeza que alguém lá conhece o Marquinhos.

___ AAAAAhhhhh, o Marquinhos. Eu sei quem é agora!

__ Ah, o Marquinhos? -  irritado __Me desculpe, eu não sabia que a brutal diferença entre  Marcos e Marquinhos pudesse provocar um lapso em sua memória. Isso, certamente, são seqüelas da revista Caras, Xotota.

__NOSSA! Como o senhor é boca suja.

__Escuta, Xoxota não é palavrão. Xoxota parece nome de tia velha. Imagine você dizendo para suas amigas: “Vamos comer bolinho de chuva na casa da tia Xoxota”.

__Minha tia não cham...

__Não me interessa o nome da sua tia, me passa pelo amor de Deus para o Marcos Sibini, Marquinhos ou o Gostosão que não nunca olha para você porque sua bunda é flácida.

__Ah, agora o senhor já quer falar com três pessoas?
Me imagino nesse momento pelado sobre a mesa da recepcionista fazendo um girocóptero com meu pinto na cara dela.

__ Olha, esqueça, transmita o recado para o MARQUINHOS que o Léo ligou e para ele retornar a ligação, ok.

___ Léo de onde?

___Amigo dele.

___Amigo de onde?

___O professor de jazz.

___O Marquinhos faz jazz? (Se segurando para não rir)

___Faz sim, com seu pai às terças.
Silêncio!

___Meu pai não tem as pernas, perdeu as duas no ano passado por conta da diabete.

Nesse momento sinto uma vontade imensa de beijar a bunda de um macaco contaminado com o vírus ebola.

___Olha, desculpe, eu não queria chegar a esse ponto, mas é que você me deixou nervoso e deixa muito a desejar na sua função.
Soluços abafados do outro lado da linha.

___Eu não queria ofender o seu pai ou a sua família, me sinto péssimo com o desenrolar dessa conversa. Podemos começar de novo?
Secando as lágrimas e a voz embargada.

___Sim, desculpe senhor, com quem o senhor deseja falar?

___Bom dia, eu gostaria de falar com o senhor Marcos Roberto Sibini.

__Hum, e o senhor poderia me informar o setor?

TU, TU, TU, TU...

Leonardo Carvalho - Outubro 2010

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

JANETE


Janete é uma pessoa simpática, meiga, reservada e charmosa. Mas acha que tem um defeito. Se é que podemos levar em conta isso como um defeito. É gorda. Não como qualquer gorda. É espaçosa, cheinha, oval, preguiçosa. Uma gorda de categoria. A gula desordenada e a falta de movimento resultaram em pneus, apelidos maldosos e a solidão. Ah, sim, ela ficou sozinha. Apesar dos 36 anos, ela ainda sonha com o príncipe magro encantado. (Chega de relaxado nessa história) Forte, alto, boa pinta, estereótipo de novela.


Na estrada, 140 quilômetros no velocímetro e 102 kg no assento, o vento balança seu cabelos e corta a fumaça do cigarro. Curvas perigosas, freadas bruscas e pneus patinam no asfalto quente da rodovia. Janete tem pressa. Treme e traga com compulsão. Fechadas e xingamentos. Ela está nervosa. Afinal, foram 22 dias em um inferno, segundo ela própria define. Um Spa no lado inabitável de Piracicaba. Com muitas árvores (não frutíferas), diversos pássaros (espécies raras), piscina (só para ginástica), aulas de yoga, aeróbica, musculação, acompanhamento psicológico e 1200 calorias por dia. Depois das 1.200 calorias confesso que ela mais foi ao psicólogo. Ninguém é de ferro.

Depois da internação, finalmente está na rua. De volta à liberdade. Está de volta com menos 10 dos 40 quilos recomendados. Não faz mal, ela afinal se esforçou. Apesar de ter quase extinto uma boa parte da fauna em um ato desesperado. Lembranças do confinamento, só da tortura e um livro: “Hoje eu acordei gorda”. Suas lembranças geram raiva que refletem na direção perigosa. Como uma predadora atrás da presa ela rastreia enquanto dirige: uma loja de conveniência, pelo amor de Deus.

Logo, depois de uma curva que quase capota ela vê o oásis. Não há tempo nem de reduzir. Desce do carro e entra decida na loja. Desmancha violentamente uma embalagem de chocolate e ocupa os braços com milhares de calorias. Escolhe a esmo. Está cega de ansiedade. Surpreende o atendente e não repara nas pessoas que olham sua gula descontrolada. Respira e esbraveja alguns palavrões. A maioria deles para os controladores da gordura, responsáveis pelo seu tratamento na clínica (perdão, confinamento), e para seu amigo Bráulio. O rapaz havia dito há dias que Janete precisava decidir perder peso. Falou de vantagens, iludiu com desejos, e extrapolou nas histórias. Receosa, se internou e deu no deu. Mais fome e agora também tinha descoberto uma fúria dentro dela. Pensava em talvez estrangular, esfaquear, fuzilar e todos os maus que podem ser cometidos contra um ser humano. Bráulio seria a vítima.

Na saída da loja, com dez quilos a menos, mas que seriam rapidamente recuperados, ela ouve um fiu-fiu. Pára. Primeiro ignora, afinal não estava tão atraente assim. Dá um passo, e novamente um fiu, fiu. Olha para trás, retorna um pouco, joga os chocolates no chão, e procura de seu galanteador. Não ouvia uma cantada desde a adolescência, quando tinha cintura. Se sente
atraente, depois de muitos anos, se sente gostosa. A sensação de segurança faz ela fazer seu olhar de novela. Charme. Volta, dá uma rápida espiada pelas prateleiras, e não encontra ninguém. Frustrada se dirige novamente à porta. Mais uma vez o sensual fiu-fiu. Dessa vez ela identifica. Um macaquinho eletrônico era o responsável pelas cantadas. O sensor de movimento do brinquedo fazia o desejado ruído. Ela olha para o aparelho eletrônico e sente desdém. Suas mãos tremem e sua ação é ofensiva. Joga o macaco no chão e sapateia em cima dele. Sai da loja sob desaforos do gerente e vê um adesivo colado no vidro ao lado do seu carro. “Perca peso. Pergunte-me como?”. Abre o porta-malas, pega a chave de roda, quebra o vidro e sai em disparada. Dois minutos. Volta e compra o macaco.

Dizem que hoje ela desistiu de emagrecer ou procurar um namorado. Está mais feliz do que nunca e mal sai de casa. Sua única preocupação é com o macaquinho, que agora faz fiu- fiu 24 horas por dia, assiste à novela e é testemunha dos strip-tease mais exóticos já presenciados em um conto. Os vizinhos já protestaram pelo barulho, mas Janete não liga. A única coisa de
Que ela quer saber é das pilhas.


Leonardo Carvalho – Setembro 2002