segunda-feira, 13 de abril de 2009

Os delírios de consumo de Becky "BOMBA" Bloom

Quando você sabe que entrou numa enrascada? Bom, geralmente, você só sabe que se deu mal quando a merda está feita. A minha primeira enrascada desse ano aconteceu neste domingo, quando sem muito o que fazer decidi ir ao cinema. Percebi a roubada logo na chegada ao cinema ao perceber que a maioria dos filmes já eram do meu conhecimento, ou seja, já os tinha assistido , e restavam poucas e cruéis opções.

O meu instinto racional me disse imediatamente “vá para casa”, “alugue um filme de melhor preferência”, “termine de ler seu livro”, “durma”, “ligue para um amigo implorando companhia, alegando caso de vida ou morte”, “fuja imediatamente deste lugar”. Porém, o tédio e a preguiça de fazer tudo isso me levou a uma só coisa: arriscar um palpite de um filme mais ou menos e, se possível, se entreter com ele.

As duas e nada atraentes opções não eram as melhores. Poderia assistir ao novo blockbuster da Disney “Monstros Vs Alienígenas” ou “Os delírios de Consumo de Becky Bloom”. No exato momento da minha decisão, me veio à mente uma causa nobre: “Como os críticos de cinema fazem ao se deparar com um filme propenso a ser ridículo e ainda são obrigados a assistir?”. Eu tinha que passar por essa experiência uma vez na vida. Becky Bloom era a opção menos pior, já que o livro que inspirou o filme era um Best Seller, anunciado em letras garrafais na propaganda do filme. Pensei que se o livro era bom, o filme deve ser no mínimo regular. A armadilha da propaganda havia me fisgado.


Minha mesopotâmica missão seria apenas dizer discretamente a atendente que queria uma entrada inteira para o filme. Na fila, fiquei imaginando como diria isso. Susurrando: “Por favor, uma inteira para os Delírios de consumo.” Isso já seria suficiente para a garota acostumada o dia todo a um menu de no máximo oito filmes. Ou então diria seco e direto “Para a próxima sessão da Becky”, impondo minha determinação e razão na escolha. Minha tarefa principal era impedir que as dezenas de crianças que estavam acompanhadas dos pais ao meu lado não ouvissem e rissem de mim durante a compra. Eu quase consegui.

Ao deparar com a cabine blindada, a solícita atendente mal me olhou e já soltei uma espécie de suspiro bem próximo ao microfone da janela “Os delírios de consumo inteira”. A moça, atônita com minha forma de se expressar muito baixa rabateu. “Qual o filme senhor?” Olhei para os lados e enquanto os afoitos meninos derrubavam as colunas da fila me olhando, falei com firmeza. “Uma inteira para Becky Bloom, por favor”. Foi quase como uma facada no meu coração. Naquele momento vi que jogava minha total dignidade no lixo e diante de crianças de menos de 10 anos. Era, sem dúvida alguma, a coisa mais humilhante que me acontecera em uma fila de cinema.

Resisti bravamente, até a extrovertida atendente repetisse meu pedido em altos decibéis do alto falante o que iria assistir. “UMA INTEIRA PARA OS DELÍRIOS DE CONSUMO DE BECKY BLOOM”. Bom, imaginei se estava pensando em enganar pelo menos o final da fila, acabei de me dar muito mal. Sorri amarelo e peguei a entrada sem olhar para trás. A cena de pessoas rindo disfarçadamente do meu gosto por filmes “exóticos” talvez nunca sairiam do meu córtex cerebral, nem com altas doses de ácido lisérgico e muitas sessões de terapia.

Superado o trauma, fui decidido para a entrada e passei tão rápido pela garota que recebia as entradas que ela mal pode ler o que estava escrito no meu ingresso. Me joguei dentro da sala esperando que o pior já tivesse passado. Ledo engano.

Foi a primeira vez que contemplei uma sala de 500 lugares só para mim. Algo que me deu enorme satisfação e, paradoxalmente, me causava uma certa preocupação. Aquele, além da minha consciência, era o sinal definitivo que um iceberg estava bem à frente. E o filme já estar na exibição dos trailers era um alerta que nem os botes salva-vidas estavam disponíveis. Senti vontade de chorar, mas aceitei meu destino. Escolhi o melhor lugar do cinema – afinal, era só meu – e desejei que os próximos 90 minutos não fossem tortuosos, mas que me matassem logo de uma vez, evitando a dor de querer saber o final de um filme imbecil.

Becky Bloom tinha um bom começo, o que aguçava minha mente de que poderia ser uma história criticando o comportamento compulsivo e fútil de mulheres consumistas. Belo soco na cara eu levei. Não levou cinco minutos para perceber que o filme não tinha enredo, não era amarrado com nada e apelava ao péssimo gosto, tirando, logicamente, algumas marcas de grifes famosas que aparecem no filme. Comecei a sofrer violentamente e não havia ninguém dentro do cinema para compartilhar a minha agonia.

Lembro de ter arrumado demoradamente umas três vezes a agenda do meu telefone enquanto passava o filme. Sim, fiquei com o telefone ligado e não respeitei as regras do estabelecimento deixando meu celular ligado. Afinal de contas eu era a única pessoa corajosa e burra a encarar aquele lixo.

No filme, a afetada Becky, era uma jornalista de uma revista de jardinagem à beira da falência. Revela a uma amiga seu sonho de trabalhar em uma revista de moda, mas seus hábitos shopoholics são disparadamente maiores do que qualquer desejo de se fazer aquilo que se gosta. Alucinadamente, um editor bom-partido e audacioso, confia a Becky um cargo em uma revista de economia quando ela estava desempregada por conta da falência de sua antiga empresa. Becky aceita o trabalho e se torna um fenômeno editorial por seu texto original e descontraído, conquistando novos leitores para a revista. Pois é, eu sei que é difícil acreditar, mas a menina vira uma celebridade do dia para a noite e com um único texto. A partir daí Becky passa a disputar com uma colega de trabalho da famosa revista de moda, meio parecida com a mulher caveira Anna Wintour e se envolve em confusões fadadas ao clichê e a piadas nada, mas NADA, engraçadas.

Eu suportei o filme até o lanterninha vir até a sala, depois de uma hora, checar se eu não tinha me jogado de cabeça escadas abaixo. Me senti envergonhado de estar sozinho na sala e tomei a atitude mais sensata naquele momento. Me levantei, ergui com grande orgulho meu maior dedo em direção da Becky e saí antes que ela arrumasse um emprego de limpar a bunda do Bin Laden no Iêmen, o que era naturalmente possível com um roteiro tão medíocre.

Não recomendaria um filme desses nem a um inimigo em seu leito de morte. Ninguém merece ir para o além com Becky Bloom na cabeça.

Tomem muito cuidado, pois este filme pode daqui alguns anos pode estar na sessão da tarde. Quem conseguir me superar e assistir o filme inteiro, por favor, termine a resenha que publico aqui.

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