É fácil confrontar os nobres deputados. Inclusive, é fácil dizer o se pensa a eles sem sair da sua casa. Foi o que eu fiz e milhões de brasileiros fizeram nessa semana, com o agravamento de mais um escândalo envolvendo os nobres parlamentares. A farra das passagens aéreas é uma obscena demonstração de como esse senhores se sentem imunes à opinião pública e à justiça. Para eles, não existe crime, já que gozavam de privilégios contidos no próprio cargo. Eu, honestamente, discordo.
O caráter sempre deve estar acima dos nossos próprios direitos, para somente assim se formar uma razão ética. Porém, Ciro Gomes, não concorda com o fato de ser execrado pela imprensa de hoje, que o acusam de promover viagens para sua mãe às custas do dinheiro público. Para ele, tudo isso é armação; é um estratagema maquiavélico de parte da imprensa que, utilizando da má fé, querem afundá-lo na política; que são fontes avariadas, com informações sem credibilidade.
Ciro Gomes não sabe que pessoas de Organizações Não-Governamentais fiscalizam e verificam números de gastos que eles cotianamente desprezam. Que todas essas informações constantemente divulgadas em telejornais, jornais, revistas, rádios e sites da internet foram checadas sim, inclusive, com as companhias aéreas que eles costumam escapar do País.
Hoje, Nobre Deputado Federal Ciro Gomes, abro o meu modesto espaço para sua explicação. Porém só peço que o senhor não seja político demais. Seja o homem valente e de caráter que o senhor quis mostrar ao Brasil na útlima semana quando desacatava o Ministério Público, a imprensa e seus colegas de trabalho. E se estiver errado, assumir a culpa é o primeiro sinal de nobreza. Porém, do seu caro irmão, governador do Ceará, Cid Gomes, que levou a sogra para passear às custas do povo, não aceito suas desculpas. Aceito a devolução do dinheiro aos cofres públicos do Ceará, um Estado que disputa a liderança de miséria no nordeste, e a disposição do cargo para quem leva a política a sério.
"Caro Leonardo,
Infelizmente a nossa imprensa brasileira está impregnada de gente mal intencionada, ou pelo menos, que não reservam o devido cuidado com uma etapa crucial do jornalismo: a apuração. Digo isso porque esta lista - que até agora nem mesmo os autores das matérias revelaram de onde ela saiu - erra grosseiramente ao incluir o nome de minha mãe nessa suposta relação de passagens internacionais pagas pela Câmara.
De acordo com a tal lista, minha mãe teria feito duas viagens para Nova Iorque em dezembro de 2007. É uma mentira tão esdrúxula, que nem visto para os EUA minha mãe tinha na data apontada. A lista também relaciona outras duas viagens para os EUA em abril de 2008. É também outra grande mentira que paguei passagem de minha mãe com verba da Câmara; Ela viajou comigo sim, mas pagou sua própria passagem.
Se extrapolo é decorrência de minha profunda indignação, como qualquer um faria ao ver sua mãe de 81 anos envolvida numa armação dessa natureza. Naquela ocasião, estava apenas defendendo a minha honra e honra de minha mãe, e não apoiando a posição daqueles deputados que se manisfestaram contra a restrição de passagens, como algumas notas e matérias interpretaram.
É também importante que se registre: desde o início do meu mandato, determinei que todas as passagens seriam de uso exclusivo do parlamentar. Tanto é que da verba de passagens aéreas de que dispõe meu gabinete, economizei para os cofres públicos mais de R$ 189.000,00 (cento e oitenta e nove mil reais) nos dois anos e 4 meses em que exerço o mandato de deputado. Tais recursos retornaram ao poder público, ao fim de 2007 e ao fim de 2008.
Quanto ao episódio envolvendo o governador Cid Gomes, repito o que fora amplamente divulgado na imprensa daquela época: o govenrador já pediu desculpas publicamente e se colocou à disposição do Tribunal de Contas do Estado para quaisquer outras informações. Outras viagens para o exterior também ficaram condicionadas à aprovação da Assembléia Legislativa.
Obrigado pelo seu contato.
Ciro Gomes"
Como não poderia deixar de ser, eu também tenho algo a dizer.
Caro Nobre Deputado Federal Ciro Gomes,
É com profunda tristeza e lamentação receber uma explicação tão política como essa, quando esperava uma atitude muito mais nobre, como o próprio cargo de deputado expõe para a sociedade, e de civilizada hombridade. Lamento por minha família assistir na televisão um comportamento tão chulo, inapropriado e sem compostura de um deputado experiente como o senhor, mesmo justificando sua incontrolável cólera contra essa imprensa que persegue o senhor e sua família. Vale à pena lembrar que essa mesma imprensa, que tem livre acesso as informações sobre seus gastos de gabinete, ficou por quase três décadas amordaçada pelos anos de chumbo, impossibilitada de vasculhar as entranhas do governo e expor à população a atitude canalha e vil de muitos deputados que hoje estão no congresso.
Diferente do que o senhor imagina, a imprensa não persegue um só político, mas a falta de decoro generalizada de uma corja sem limites e escrúpulos, que zombam quase que diariamente do cidadão sério que trabalha e luta por sua sobrevivência digna, sem apelar a assistencialismos de cabrestos, e despejar seu dinheiro na mão de bandidos de paletó, que passam os poucos dias que “trabalham” discutindo roteiros turísticos para suas esposas, filhos e amantes. O Congresso se encontra na sua mais descarada e vergonhosa fase desde o fim da ditadura.
Diferente do que o senhor, Nobre Deputado, pensa, nós brasileiros lutamos muito por essa democracia e, inclusive, pela representação legislativa que o senhor ocupa hoje. Portanto, quando confrontado com acusações absurdas e sem fundamento – como o senhor mesmo diz – seja no mínimo diplomático e respeitoso com a população que observa suas atitudes. Rebata os fatos de maneira honrosa e coerente, ao invés de insultar os milhões de brasileiros com um vocabulário escabroso e inadequado.
O senhor não mostra hombridade sendo enfático e ácido com os jornalistas. Hombridade é apresentar provas de que eles mentem, que distorcem os fatos, que perseguem o senhor e sua família, que não são éticos. Isso é ser digno. Porém, até o momento, tirando aquela chuva de palavrões, essa foi a única defesa que ouvi do senhor.
Já quanto ao escândalo envolvendo seu irmão, Cid Gomes, se colocar à disposição da justiça e pedir desculpas não bastam. Pergunte a qualquer cidadão nas ruas se ele aceitaria as desculpas de um ladrão que o roubou e o impossibilitou de dar uma vida mais confortável para sua família. Saia às ruas, como disse bem o Ministro Joaquim Barbosa nessa semana, e faça essa pergunta aos cidadãos do seu Estado. Pergunte a eles se desculpas bastam para confortar caprichos dignos de magnatas e reis. Dignidade, nesse caso, é colocar o cargo à disposição.
Para quem almeja ser presidente da República, o senhor deixa muito a desejar no quesito diplomacia.