Eu adoro a Suíça. Nas duas vezes em que estive lá fui tratado com extrema cordialidade e respeito que serviram de base na formação da minha opinião em relação a esse país, respeitado no mundo inteiro pela diplomacia e cultura exemplar. Porém, a notícia da advogada Paula Oliveira, de 26 anos, que foi atacada brutalmente por três skinheads na última segunda-feira na saída de um trem em Dubendorf, cidade próxima a Zurique, me causa enorme preocupação. Os covardes que atacaram Paula, não só a escolheram por ser estrangeira, mas por ser mulher e indefesa diante de facínoras como esse. Durante 15 minutos a advogada foi espancada, humilhada e teve seu corpo retalhado por pequenos cortes de estilete com as siglas do partido de extrema direita de Christoph Blocher, o UDC (União Democrática de Centro). Paula estava grávida de três meses de gêmeos de um cidadão suíço e, após o ataque, sofreu um aborto.
O UDC se tornou nos últimos anos o partido mais importante da Suíça e sua política prega basicamente o desrespeito aos direitos humanos, como a xenofobia, que impede que estrangeiros trabalhem nos país; a islamofobia, a qual proíbe a construção de Mesquitas, por exemplo, no território suíço; e o racismo. Diante da enorme quantidade de estrangeiros que vivem na Suíça (muitos ilegalmente) e contribuem com o crescimento e desenvolvimento do país, o UDC prega uma federação livre dessa mão de obra e recuperação das suas raízes culturais, as quais vêm se perdendo diante da invasão de diversos estrangeiros nos últimos anos.
O que me choca é o fato da imprensa Suíça nem citar o fato em nenhum de seus jornais. Veja bem, NENHUM JORNAL da comunidade helvética se manifestou a respeito desse caso bárbaro e o tratou como se fosse um assalto à mão armada numa praia do Rio de Janeiro. Como se não bastasse, segundo Paula, o chefe de polícia da cidade, o qual se responsabilizou em investigar o caso, cogitou a hipótese da advogada ter provocado os hematomas e mutilações. Será que se fosse uma cidadã suíça esse vagabundo teria as mesmas indagações?
Pelo início das investigações, já sei como isso vai acabar, em nada. A primeira porque os skinheads que atacaram essa moça certamente imaginavam que ela pudesse ser uma imigrante ilegal e, independente da banalização que eles cometessem com ela, muito provavelmente ela não procuraria as autoridades para registrar uma queixa. Segundo porque a polícia desde o primeiro contato com ela aplicou ainda mais uma violência, a de desprezo por alguém que foi brutalmente violentada e ainda perdera os filhos. E, por fim, a de descaso com esses grupos que crescem vertiginosamente no país e, hoje, podem parecer um problema de uma minoria isolada, porém num futuro podem se tornar uma base assim como se tornou o partido Nazista no início do século passado.
O paradoxo dessa história é que no último domingo, os suíços votaram a favor do prolongamento e da extensão à Bulgária e à Romênia dos acordos de livre circulação dos trabalhadores da União Européia.
Vale sempre fazer um comparativo inverso em situações que envolvem dois países. E se uma suíça fosse atacada no Rio de Janeiro ou em São Paulo por um grupo de Skinheads e perdesse o filho? Como a imagem do Brasil iria ficar além da bunda, do carnaval e do futebol? Pra lá de tupiniquim.
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