O mundo é cheio de complexos,
dúvidas, má informação e preconceito. As pessoas concebem opiniões com a mesma
facilidade que comentam a novela das nove horas. Ninguém se safa: marido,
esposa, filho, cunhado, primo, vizinho, cachorro, político, atriz, etc. Todo
mundo reunido ali, dentro da cabeça de cada inquisidor, prestes a ser julgado.
Alguns de maneira ácida, inapropriada, mal educada e muitas vezes cruel. Há
quem diga e até defenda em teses enfadonhas de doutorado que quando você
critica alguém é uma forma de você aliviar toda insegurança que sente sobre si.
A filosofia do tudo o que nos irrita nos outros é aquilo que nos irrita em nós
mesmos. Método eficaz para quando ver um
homossexual na rua e gritar “Viado!”, “Queima-rosca”, “Richarlison”, “Pelotense”.
As pessoas realmente sentem um
alívio ao comentar a respeitos das outras. As mulheres então, que o digam. São
quase socialites quando se vêem acurraladas pela amiga mais magra, mais linda, com
um marido mais bonito. Falsas, porém simpáticas.
Na vida de Tabajara Carneiro isso
não foi diferente. Ele saiu lá de Passo Fundo, de uma família média e
tradicional, e tinha sempre dois desafios quando se apresentava: Onde fica
Passo Fundo e Tabajara, TA-BA-JA-RA, é
sobrenome? Dependendo do estado, gente
mal informada tem tanto quanto periguete em baile funk. A vida pode ser bem
cruel.
__ Obrigado por ter ligado para
TIM, seu nome, por favor.
__ Tabajara.
__Taba o que?
__TABAJARA!
__TABAJARA?
__SIIMMM, TA-BA-JA-RA!!!
__Ok senhor, e o seu primeiro
nome?
O cotidiano tinha dessas coisas e
quando o Jovem encontrava alguém na mesma situação, se tornava amigo imediato.
Veridiano e Adroaldo se tornaram seus amigos instantâneos. Falar com alguém que
sofria da mesma síndrome do nome diferente ajudava a superar o inferno das
piadas.
Tabajara acreditou em si. Botou
fé no seu potencial e estudou. Se tornou médico respeitado, casou com alguém
que era mais linda e mais jovem, se aventurou na política e conseguiu um status
que sempre quis na infância. Assim, quando a vida parecia boa e perfeita, o
Casseta & Planeta, numa triste demonstração de falta de criatividade
humorística, inventa as “Organizações Tabajara”.
__Ei Dr. Tabajara, onde eu compro
aquele “carro disfarceitor tabajara”?
__Dr, Tabajara, o senhor vai
ficar milionário se patentear aquele “Personal Pintovision Tabajara”. Eu não
vejo o meu há uma década.
Tabajara só se lamentava e por
vezes ria das idéias esdrúxulas. Fazia parte da vida dele. Ele só queria ser
alguém com um nome normal e trivial, Marcelo, Alfredo, Roberto, Eduardo. No
desespero, confessou a um amigo:
__Gerson, até Clóvis eu aceitava, cara.
__Clóvis, Taba? Não é meio afeminado.
__Mas até ser gay é ser menos
questionado.
Perguntas sobre o nome
incomodavam, mas não era o grande problema. Explicar a origem sem expor mais
questionamentos era quase uma missão impossível.
__ Meu nome vem do TUPI, que era
uma tribo indígena. Significa senhor da aldeia.
__ Nossa Taba, nem índio você
parece. Tá mais pra alemão.
__ Estou dizendo que o nome tem
essa origem, não que eu seja descendente de índios.
__ Hum, você parece com Hans.
__ E você parece com Bráulio.
Era difícil aturar. Aeroportos
então provocavam calafrios. Perder o cartão de embarque ou ficar em lista de
espera era um teste de nervos. “Minha querida, não precisa chamar meu nome no
microfone, estou sentadinho bem ali, é só me chamar.”
A falta de um nome comum, gerou
falta de auto-estima e falta de auto-estima gera falta de personalidade.
__ Berenice, vou mudar meu nome.
__ Como assim, Tabajara, vai mudar
por quê?
__Cansei, horas. Casei das
explicações, das chacotas, dos trocadilhos...
__ E que nome é apropriado pra
você então.
__ Haroldo.
__Haroldo?
__ É horas, Haroldo. É um nome
comum e ao mesmo tempo diferente.
__ Não gosto.
__Por que não?
__ Porque quando eu gritar com
você não vai ter um impacto grande. Olha só, HAAAARROOOLLLLDDDDDDOOOOO. Parece
que to chamando o mordomo para trazer o papel higiênico. Que tal Heródoto?
__ Parece nome de planta
estranha?
__ Claudemir?
__ Operário.
__Estevan?
__ Político corrupto.
__ Davi?
__ Bíblico demais.
__ Eraldo, Antenor?
__ Psicopata e Bêbado.
__ Quer saber, Tabajara. Muda seu
nome para Eulâmpio que eu não vou parar de te chamar de Tabajara mesmo.
__ Eulâmpio?
__ Pois é, é o nome do noivo da
minha recepcionista.
__ Huuuummmmm.
Depois daquela noite Tabajara
teve a epifania de que num mundo onde as maldições atingem as pessoas de
diferentes modos, sejam elas através de nomes estranhos ou doenças contagiosas.
Porém, ele se sentia um novo homem. Iria acordar cedo no outro dia e pedir
cartões de visita novos decorados com dourado no seu primeiro nome. Uma placa
maior e mais chamativa também seria confeccionada para porta de seu
consultório: DR. TABAJARA CARNEIRO! A vida não era tão mal assim, afinal,
depois de Eulâmpio, ele passou a se sentir a pessoa mais afortunada do mundo.
Léo Carvalho - Agosto 2013
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