José Bonifácio de Oliveira Sobrinho,
o Boni, faz jus à sua fama de diretor competente e inovador, realçando a
qualidade de outros profissionais que ajudaram a transformar a Globo no que ela
é hoje: líder absoluta de audiência no território nacional. Em um livro
encantador, figuras como o lendário diretor Walter Clark, ex-aliado de Boni,
são retratadas como pilares importantíssimos na construção do império de
comunicação, deixando de lado as rixas pessoais que teriam levado à sua saída
da Rede Globo em 1977. Aliás, gentileza é que não falta nas palavras do autor.
Desde seus braços direitos, como o
diretor Daniel Filho; Joe Wallach, o ex-representante do grupo
americano Time-Life e então superintendente de Administração; Jose Ulisses
Arce, superintendente de Comercialização; e Armando Nogueira, diretor de
jornalismo. Além, é claro, de Roberto Marinho, mencionado sempre como "Dr.
Roberto", o que dá um tom superior e quase de “mago” ao dono da empresa.
Quem
espera pelas fofocas, se desencanta logo nas primeiras páginas, quando o
próprio autor adverte que suas memórias são reflexões mais para a curiosidade
sobre as empresas e pessoas com quem trabalhou do que a vida particular de
figuras notórias da televisão brasileira. Isso, entretanto, não abala a
estrutura de um livro muito bem escrito, rico em detalhes e fatos curiosos de
um homem que deu enredo ao próprio destino, apostando em seu talento e ambição.
Não é de se estranhar, que ele enfatize tanto um dos seus mantras: “Quem quer
ser criativo, não pode ter medo de errar. Quem quer ser eficiente, não pode
tolerar o erro.”
As
quase quinhentas páginas do Livro do Boni são capítulo à parte para quem
acompanhou o nascimento da televisão brasileira. Boni não poupa nuances a quem
ele classifica de talentos indispensáveis para a consolidação da TV Globo como
uma central de produção e não apenas transmissora de programas. Alguns deles,
como Abelardo Barbosa, o Chacrinha, compartilha de passagens no limbo e no céu,
por conta de seus caprichos excêntricos. Em um deles, em particular, Boni
explica a quase tragédia quando Chacrinha, recém-contratado, havia criado um
concurso do cão mais pulguento do brasil. O concurso, segundo o próprio
apresentador, tinha um apelo de conquistar as classes mais baixas e popularizar
o programa, algo que Chacrinha vinha fazendo com grande liberdade na TV Tupi.
Acontece que, segundo Boni, o cachorro vencedor tinha aproximadamente sete mil
pulgas (lamento, mas nem o autor explica como eles contaram as pulgas) e quase
interditou os poucos estúdios da emissora, que ainda rodavam com recursos
parcos de uma empresa que quase tinha chegado à falência em 1967.
Aliás,
antes de se tonar um exemplo para as outras emissoras, a Rede Globo, amargou
anos de aperto financeiro, quando mal tinha condições de pagar seus próprios
artistas e funcionários. O salvador da pátria, novela que levaria anos ainda
para ser produzida, foi Silvio Santos, que desembolsou os próprios recursos
para ajudar a emissora que seria a pedra em seu sapato anos mais tarde.
O
livro do Boni se desenrola com uma fluidez impressionante por essas e muitas
outras histórias. O leitor fica preso a um texto leve narrado por um “intolerante
adorável” que saiu da cidade de Osasco para se tornar um dos ícones da TV
Brasileira.
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